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terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Sementes que germinam sustentabilidade

Qualidade e preço atraem consumidores à barraquinha verde montada numa rua estreita da cidade de Crato, onde está Juvenal Januário Matos, ou simplesmente, seu Juvenal, um dos muitos trabalhadores que encontraram na agricultura familiar uma alternativa ao agronegócio.

A parceria com a Cáritas Diocesana e a Casa de Sementes, onde ele e outros tantos companheiros e companheiras abrigam a boa vontade de produzir alimentos saudáveis, veio em 2006. À época, era moda falar em “sementes transgênicas”, nome dado aos organismos geneticamente modificados. Seu Juvenal nem gosta de ouvir essa palavra. Dá frio na espinha. Os transgênicos – ele pontua – representam incontáveis riscos: o uso de agrotóxicos, a perda da biodiversidade, tanto pelo aumento no uso de agroquímicos (que tem efeitos sobre a vida no solo e ao redor das lavouras) e a degradação do meio ambiente. Por isso, receoso de que fosse essa a proposta, resistiu, a princípio, firmar qualquer acordo. “A gente ficou desconfiado, porque nós acreditamos que essa semente veio para acabar com o país, com o povo, os animais, com tudo, pra monopolizar a comunidade”, conta.
Mas a intenção da Cáritas, na verdade, era apresentar projetos que pudessem fortalecer o modelo agrícola baseado na utilização de sementes crioulas, aquelas que conservam a biodiversidade nativa e cultivada, recuperam os solos, protegem e ainda usam as águas com responsabilidade. E deu certo. “Desse tempo pra cá, a gente tem essa ligação, esse convênio. Antes de criar a Casa de Sementes, a gente trabalhava muito solto e a entidade deu impulso, nos ajudou. Não têm nem palavras. A gente deseja é que tenha continuidade, porque sabe que só vamos conseguir se somar forças”.
Somando forças, aliás, foi o jeito fecundo que encontrou para fazer germinar os princípios de sustentabilidade, garantindo à mesa de todos aqueles que se aproximam de sua barraca miúda alimentos livres de venenos e qualquer tipo de agrotóxico. E o melhor: fortalecendo a riquíssima rede tecida por agricultores e agricultoras familiares.

A luta pela preservação das sementes criolas continua. Não para. Não pode parar. “Se não existe a semente, não existe alimentação. Ela é um privilégio, um princípio da nossa vida”, diz seu Juvenal que não perde a vontade nem a esperança de construir um futuro sustentável