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quarta-feira, 12 de abril de 2017

Assaré: A força do Recomeço

“Desculpem a bagunça, é que eu ainda estou me organizando”. Com esta frase a dona de casa Zildemir Alves da Silva acolheu em sua residência dom Gilberto Pastana, na tarde do sábado, dia 8 de abril. O bispo esteve em Assaré e viu mais de perto os danos causados pela enchente provocada pelo rompimento da barragem do Açude dos Montes.

Na verdade, ao falar estas palavras à dom Pastana, Zildemir expressou, com o olhar, que esta organização ia além dos danos materiais. Era a própria vida retornando a sua cotidianidade, afinal, algo que era visto somente através dos jornais televisivos no Sul do país, tão distante, foi vivenciado, de forma nua e crua, por um povo que sofria a escassez de chuva há cinco anos. Aquele dia 17 de março de 2017 jamais será apagado da memória.

“Quando eu vou no meio do corredor a água já vinha acompanhando e eu mais depressa fechei a porta e sai com ele”, ela falou, apontando para o filho André Pereira, de seis anos. “Não recolhi nada, porque não teve como […] Então eu peguei ele e sai. Quando eu saí fora, já saí pegada nos portões, nas paredes, porque a água já estava com muita força e subindo aqui dentro de casa […] Praticamente perdi tudo”, recordou a dona de casa.

Zildemir mora no bairro Casas Populares, o mais próximo do açude, e um dos cinco atingidos pela enchente. Mas o drama vivenciado por ela não foi muito diferente do que passou a costureira Rosangela Gomes que reside no centro de Assaré, o bairro mais distante alcançado pela correnteza. A água invadiu a casa fazendo com que ela perdesse, dentre outras coisas, todo o material de trabalho.

Segundo o coordenador da Defesa Civil do município, Paulo Renan, 214 famílias foram atingidas e três casas interditadas por risco de desabamento. A análise feita pela Defesa Civil ainda concluiu que a causa da enchente se deveu à falta de manutenção e à inexistência de um “sangradouro”, canal por onde a água se desvia. No dia do acidente, Assaré teve a segunda maior precipitação do Estado, com chuva de 88.0 mm, de acordo com Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos – Funceme.

Com o desastre, campanhas de cunho emergencial foram desenvolvidas pelo poder público e por diversas instituições, que se solidarizaram com a situação. O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) fez relatórios técnicos para cada domicilio e, à medida que as doações iam chegando, o órgão fazia os repasses. Fogões, geladeiras, cestas básicas, kits de cama, mesa, banho, limpeza e higiene pessoal foram encaminhados às famílias

“Fizemos o controle do público mais prioritário, o que cada família perdeu e de que forma podíamos ajudar a cada uma, individualmente”, explicou Beatriz Arrais, coordenadora do CRAS, que junto à Secretária de Saúde, à Defesa Civil e à Secretaria de Obras trabalharam de domingo a domingo, manhã, tarde e noite para acabar, o mais rápido possível, com aquele cenário de medo, angústia e desespero.




O poder público também contou com outras instituições, dentre elas a Igreja Católica, representada pela Paróquia Nossa Senhora das Dores, que tem como pároco o padre Ronaldo do Nascimento. Ele, mobilizando os agentes de pastoral para unirem-se ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS –, ajudou na organização do material que chegava.
“Fizemos uma mobilização na Forania V para arrecadar doações, além da assistência espiritual”, disse o pároco, agradecendo a solidariedade de todas as paróquias da região e de outras foranias, que se sensibilizaram com o momento. É a unidade viva da Igreja


E sobre o encontro de dom Pastana com uma das famílias, vinte e dois dias após o desastre? Ele aconteceu de forma simples, inesperada para ela, na escuta atenta das palavras de desabafo, de conforto, no diálogo acolhedor e foi concluído de forma singela, com a oração do Pai- Nosso, afinal, passar por tudo isso e manter no rosto o sorriso, como o de Zildemir, é acreditar que, através da fé, é possível superar todas as barreiras e que só através dela se pode recomeçar.