Os líderes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), mortos
em uma reserva indígena na última sexta-feira no Ceará, moravam há cerca de um
ano em um condomínio de luxo no Porto das Dunas. A mansão, situada no
Alphaville, onde moravam Rogério Jeremias de Simone, o 'Gegê do Mangue'; e
Fabiano Alves de Souza, o 'Paca', foi alvo de um mandado de busca e apreensão,
na madrugada de ontem, conforme uma fonte da Secretaria da Segurança Pública e
Defesa Social (SSPDS) ouvida pela reportagem.
Equipes da Delegacia de Repressão as Organizações Crimonosas (Draco)
fizeram vistorias na casa, que teria sido comprada por R$ 2 milhões e estaria
em nome de um 'laranja'. "O pagamento do imóvel foi feito em 10 cheques de
R$ 200 mil", confirmou o servidor da SSPDS.
A ordem
judicial foi expedida no plantão do Poder Judiciário, no último domingo, e
cumprida nas primeiras horas de ontem. Os dois homens também ostentavam carros
de luxo defronte à mansão e não levantavam suspeitas dos vizinhos. "Um
funcionário teria sido o primeiro a reconhecer os dois homens mortos como sendo
os moradores do condomínio", disse a fonte. A Polícia Civil investiga
ainda se os dois teriam outros imóveis registrados em nomes de 'laranjas' na
Capital e na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
Há alguns anos, o Ceará já havia virado porto seguro de integrantes da
cúpula do PCC. Em março de 2016, Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, irmão
de Marcos Herbas Herrera Camacho, o 'Marcola', o líder da facção, foi preso em
uma operação da Polícia Federal, no bairro Sapiranga, em Fortaleza. Em uma
mansão, na Capital, o irmão de Marcola comandava o tráfico internacional de
drogas.
Liberação
Na manhã de ontem, os corpos dos dois líderes do PCC, foram liberados
pela Perícia Forense do Ceará (Pefoce) e seguiram para São Paulo, onde devem
ser sepultados, hoje. As esposas dos mortos, duas amigas delas e o advogado que
defendia 'Gegê' vieram a Fortaleza, para acompanhar o traslado dos corpos. O
grupo desembarcou, na noite de domingo (18) e chegou a ir até a Pefoce, mas não
conseguiu a liberação de imediato.
Pela manhã, familiares dos membros da Sintonia Geral Final (nome dado à cúpula do PCC) voltaram à Perícia Forense, mas não quiseram conceder entrevista. Após cerca de 5 horas, os corpos foram liberados e retirados pela funerária. A reportagem apurou que os cadáveres de 'Gegê' e 'Paca' foram embalsamados em uma funerária, na Rua Ildefonso Albano.
O trabalho finalizado pela Pefoce é, no entanto, só o começo das
investigações. Uma fonte da Inteligência da SSPDS disse que equipes da
Coordenadoria de Inteligência (Coin) da Pasta estavam refazendo todos os passos
das mulheres de 'Gegê' e 'Paca'.
"Os policiais descaracterizados fizeram levantamentos sobre onde
elas passaram, os pagamentos que realizaram aqui no Ceará, como o da funerária,
por exemplo. Se não foi em dinheiro, fica algum rastro que se possa
perseguir", disse. As esposas das vítimas foram oficialmente ouvidas na
Draco, antes de embarcarem para São Paulo.
Outro investigador, que também atua em uma célula de Inteligência da
Pasta, disse que, ainda no fim do ano de 2017, chegaram as primeiras
informações sobre a presença de 'Gegê' no Ceará. "Não sabíamos exatamente
se ele estava baseado no Ceará ou no Piauí, mas sabíamos que ele esteve aqui,
provavelmente, planejando um ataque a uma transportadora", revelou.
Investigações
A Polícia cearense tem o desafio de descobrir quem matou 'Gegê' e 'Paca'
e esclarecer o motivo. Mais de 72h após o crime, a SSPDS finalmente reconheceu,
ontem, que os dois corpos encontrados em Aquiraz, na última sexta-feira (16),
eram de 'Gegê' e 'Paca'. O policial da Inteligência disse que é um crime
complexo, que não será fácil elucidá-lo. "Houve uma sequência de chacinas
aqui e não se escuta falar de resolução. Essa última, no Barroso, passou
batida. Nada de mandante, de executor, de mentor. Se um crime que é arquitetado
e cometido no Ceará, não é solucionado, imagine uma caso da complexidade
deste", afirmou.
As mortes de 'Gegê' e 'Paca' teriam sido ordenadas pelo próprio PCC, por
conta de conflitos internos. Um helicóptero que transportava os atiradores e as
vítimas teria pousado na reserva indígena de Aquiraz e, em seguida, houve um
tiroteio.
O policial da Inteligência da SSPDS diz que é preciso achar esse
helicóptero. "Claro que alguém tem que dar conta desse helicóptero.
Aparentemente, o 'Gegê' e o 'Paca' entraram nele porque quiseram, não foram
forçados. O que reforça que era pilotado por alguém do PCC".
Um servidor da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer), da
SSPDS, disse que é possível voar sem ser notado pelos radares, mas isto inclui
muitos riscos. Segundo ele, voando baixo, a uma altura de até 45 pés,
dificilmente o helicóptero será detectado.
A Força Aérea Brasileira (FAB), responsável pelo tráfego aéreo, informou
que ainda não foi procurada pela SSPDS para colaborar com a investigação sobre
a suposta participação de um helicóptero na ação criminosa. De acordo com a
assessoria da FAB, a aeronave pode pertencer ao grupo criminoso ou mesmo ter
sido alugada.
Após os investigadores descobrirem a matrícula do helicóptero e
acionarem o órgão, a Força Aérea disse estar à disposição para colaborar com a
localização e o trajeto da aeronave.