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quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Covid 19 já matou mais que o dobro em comparação com a Aids em 10 anos no Ceará




O novo coronavírus já vitimou mais de 8 mil pessoas em menos de seis meses. Entre 2009 e 2019, a Aids matou quase 3,5 mil pessoas. Ceará já soma mais de 8 mil óbitos por Covid-19 Paulo Alberto/SVM O Brasil já ultrapassou a marca de 100 mil mortes pela Covid-19. No Ceará, já são mais de 8 mil óbitos em decorrência da doença, segundo a Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado. Nesta quarta-feira (11), o Ceará chegou aos 150 dias desde o início oficial da pandemia, em 15 de março, com inúmeros sentimentos e histórias que ficarão guardadas. Em outros momentos, o estado vivenciou emergências sanitárias, mas nenhuma vitimou tantas pessoas e em tão pouco tempo quanto a Covid-19. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), causada pelo vírus HIV, vitimou, nos 10 últimos anos (2009 - 2019), um total de 3.440 pessoas. O número, apesar de expressivo, é 123% menor do que o deixado pelo novo coronavírus em 150 dias. Até esta terça-feira (11), já foram 8.043 óbitos confirmados e 191.540 mil diagnósticos positivos da Covid-19, de acordo com o boletim do IntegraSUS da Sesa. A articuladora do Grupo de Trabalho de IST/Aids da Sesa, Telma Martins, aponta que a experiência adquirida em momentos de emergência em saúde no Ceará está contribuindo no combate ao novo coronavírus. “Inclusive, alguns medicamentos usados para o tratamento da Aids têm sido testados contra a Covid-19, com melhora na saúde das pessoas acometidas e redução nos óbitos. Tudo que a gente aprendeu com o tratamento do HIV e demais viroses tem nos ajudado no combate ao novo coronavírus”, afirma. Apesar disso, a especialista ressalta que há diferenças na gravidade entre as doenças. Por ter transmissão respiratória, o novo coronavírus possui um potencial mais devastador em comparação às outras viroses. “O vírus ainda é desconhecido, mas sabe-se que é mais agressivo porque compromete, em pouco tempo, todo o organismo, atingindo outros órgãos vitais além dos pulmões. Por isso, pode levar ao óbito mais facilmente”, ressalta. HIV no Ceará No primeiro semestre deste ano, o Ceará registrou 493 casos positivos para o HIV em adultos - sendo 94 em gestantes. Em igual período do ano passado, foram 938 registros - 156 em gestantes. A Sesa foi questionada, mas não informou quantos destes evoluíram para óbitos no respectivo período. Em todo o ano de 2019, no entanto, o Ceará somou 226 mortes pelo HIV, confirma Martins. “Nos últimos 10 anos, tivemos de 300 a 350 óbitos por ano. A gente observa um decréscimo, o que significa que o diagnóstico está sendo feito de forma precoce, mas ainda precisamos reduzir mais”. Segundo o último boletim da Sesa, de 2019, o pico de óbitos causado pela Aids em uma década aconteceu em 2015, com 398 mortes. Em 2016 e 2017, o estado somou 367 e 358 óbitos, respectivamente. Os três anos, juntos, no entanto somam oito vezes menos mortes que a Covid-19 em quase seis meses. Sayonara Cidade, presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems), aponta que, “a medida que os estudos vão sendo feitos, vamos descobrindo soluções para esta situação (pandemia). Neste momento, nós não temos nenhum tratamento, infelizmente”, aponta. “Só podemos falar de controle total com uma vacina, o que só acredito para o próximo ano. Também não temos nada, ainda, em relação a medicamentos”. A representante explica que a descoberta de medicamentos e vacinas em massa acontece mediante tempo e evolução de estudos. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) distribui, desde 1996, todos os medicamentos antirretrovirais para tratamento do HIV. Em 2013, o SUS passou a garantir, também, o tratamento para todas as pessoas vivendo com HIV. “Mesmo a transmissão sendo diferente, a Aids era uma condenação: você está com Aids e vai morrer. Hoje, é completamente diferente. É importante está comparando (a Covid-19) com uma doença que tinha zero por cento de chance de cura”. Cuidados redobrados A professora de doenças infecciosas da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mônica Façanha, explica que, caso o paciente com HIV esteja com CD4 (células do sistema imunológico e principal alvo do vírus) baixo, o que acontece com a evolução da patologia e falta do tratamento, o quadro da Covid-19 pode ser agravado. “É muito importante que o paciente com HIV não deixe de tomar o medicamento. O vírus aumenta o risco de ter doenças graves. Se ele é suspenso, o HIV se multiplica e pode evitar as defesas do organismo”. Segundo ela, o ideal é que o paciente não fique um dia sem tomar a medicação, que inibe a replicação viral. “Caso a pessoa fique suspendendo e voltando, há também o risco do vírus ficar resistente ao esquema de tratamento”. Em março deste ano, por conta da pandemia, o governo do estado publicou portaria estendendo a validade de prescrições médicas por até 12 meses. Em Juazeiro do Norte, no Cariri, Maria Zilma Ferreira, 62, que convive com o vírus há 22 anos, relata que até consegue os medicamentos para continuar o tratamento, mas está com dificuldades em conseguir consultas de rotina. “Só temos um médico e a demanda aumentou muito. Estou há dois meses sem conseguir”, lamenta. No caso de Zilma, a carga viral é baixa por conta do tratamento, realizado no Centro de Infectologia de Juazeiro do Norte. Mãe de dois filhos, hipertensa e diabética, a idosa ainda desenvolveu síndrome do pânico e ansiedade durante o isolamento social. “Vou iniciar, nesta semana, consultas com uma psicóloga. Está sendo um momento muito difícil. Hoje, passei a morar com meu filho, que estava no Paraguai para estudar. Ele voltou para tomar conta de mim”, lembra. Ela coordena a Pastoral da Aids em Juazeiro do Norte, que conta com cerca de 30 membros ativos, e preside a Associação de Luta contra a Aids no município. O G1 tentou contato com a Prefeitura de Juazeiro do Norte questionando a situação das consultas com infectologista durante a pandemia, mas não houve retorno até a última atualização desta matéria. Histórico de outras doenças no Ceará (Sesa): Doenças associadas à hepatite: 471 óbitos, entre 2017 e junho de 2020; Leishmaniose Visceral (calazar): 414 óbitos, entre 2007 e outubro de 2019; Pico da Chikungunya no Estado: Mais de 170 pessoas óbitos (2017) - 36 em 2016.