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quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Rússia agradece a Brasil por neutralidade na Guerra da Ucrânia



A Rússia "agradece muito a posição do Brasil" na Guerra da Ucrânia, marcada por uma neutralidade visando manter o fluxo comercial entre os dois países.

Foi o que disse Andrei Klimov, da Comissão de Cooperação Internacional do Conselho da Federação, o Senado russo, durante uma conversa com jornalistas brasileiros nesta quinta (25). Ele é uma influente voz em política externa no partido de sustentação do governo Vladimir Putin, o Rússia Unida.

"O que o governo de vocês fez foi muito razoável. Foi o que fizeram países sábios, como a China e a Índia. Os países que não se unem às sanções [lideradas pelos EUA e Europa para punir Moscou] têm vantagens econômicas", afirmou. "Hoje o chinês compra gás russo por um preço 20 vezes menor que o alemão. Enquanto um destrói sua economia, o outro levanta a dele", disse.

O governo Jair Bolsonaro (PL) manteve uma certa ambiguidade em relação à guerra. Votou contra a invasão na ONU, mas não apoiou as duras sanções. Segundo o presidente, o objetivo era manter o fornecimento de fertilizantes ao Brasil, grande comprador do produto russo.

A posição causou críticas em Kiev. O presidente Volodimir Zelenski disse que o Brasil está no lado errado da história, em entrevista e também numa conversa por telefone com Bolsonaro.

A posição do mandatário brasileiro é compartilhada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que teve o nome em uma lista ucraniana de pessoas que divulgam visões russas da guerra, algo depois retirado. O petista e o seu rival na corrida eleitoral foram elogiados por sua boa relação com Putin, previsivelmente, mas Klimov evitou comentar política interna do Brasil.

Já o diretor do Instituto da América Latina da Academia Russa de Ciências, Dmitri Razumovski, que acompanhava a conversa, tangenciou a polêmica dos questionamentos à urna eletrônica feitos por Bolsonaro ao dizer que espera que ambos os candidatos respeitem o resultado das eleições. Ele não fala pelo Senado ou pelo governo, contudo.

"Ambos são independentes e qualquer tentativa de outros países, inclusive dos EUA, de influenciar a política brasileira nunca deu em nada. Tentam analisar a situação de todos os lados. Que ambos os lados aceitem os resultados [em outubro]", disse.

Klimov repassou a narrativa russa para o que o Kremlin chama de operação militar especial. Joga a culpa no Ocidente, que em 2008 convidou a Ucrânia e a Geórgia para integrar a aliança militar Otan, levando ao processo em que a Rússia anexou a Crimeia e fomentou a guerra civil no leste do vizinho, seis anos depois. A guerra atual seria consequência, então, da preparação para o posicionamento de forças da Otan junto às fronteiras russas mais sensíveis, como o Kremlin defende.

Questionado sobre os ataques recentes na Crimeia e o atentado que matou a filha do ultranacionalista Aleksandr Dugin no sábado (20), ele afirmou que são provocações visando uma retaliação da mesma natureza por parte da Rússia. "Isso não vai acontecer, respeitamos o direito internacional", afirmou, desassombrado.