2. O SURGIMENTO DO RÁDIO NO BRASIL
O surgimento do Rádio no Brasil já foi tema de muitas controvérsias, segundo pesquisas e alguns historiadores, o rádio teve início no nosso país no dia 6 de abril de 1919. Nesse período era fundada a primeira emissora do país ou quem sabe até da América Latina, é o que data o Estatuto da rádio somente duas semanas depois, em 27 de abril de 1919 (Ferraretto, 2014). Segundo Vaz Filho, a Imprensa Oficial do Estado publicou no dia 7 de abril de 1919, a prefeitura de Recife fez um despacho doando um pavilhão do Jardim 13 de maio (atualmente Parque 13 de Maio) a Rádio Clube de Pernambuco para que funcionasse a sede desse novo empreendimento. Na realidade, tratava-se de um clube formado por amigos que amavam a comunicação nas suas mais variadas formas, esses amantes da telegrafia sem fio já faziam suas transmissões experimentais e clandestinas. Num dado momento, resolveram se juntar para terem representatividade, pois se tratava de uma atividade restrita ao governo.
Documentos da emissora da própria Rádio Clube apontam que a mesma teria dado início às primeiras transmissões radiofônicas no país, de forma amadora, com um transmissor importado da França. Um dos documentos que trazem esses registros também é o Almanaque do Rádio de 1951 que traz uma reprodução da Revista Rádio, na edição número 25, de 15 de outubro de 1924, o qual apresenta essa experiência realizada em Pernambuco, em 1919. A revista relatava também sobre uma escola de rádio criada em Recife, destacando o protagonismo nordestino e o espírito vanguardista dos pernambucanos.
No início, a Rádio Clube recebia discos emprestados dos seus sócios, passando a transmitir óperas, recitais e obras clássicas, que eram ouvidos em receptores construídos de forma artesanal.
De uma maneira mais demonstrativa ao povo, já na então capital federal, há quase 100 anos, o maior veículo de comunicação de massa dava os seus primeiros passos oficiais. Com um ruído distorcido quase inaudível el com um barulho infernal. Em 7 de setembro de 1922, chega a radiotelefonia, em plena inauguração da Exposição Internacional do Rio de Janeiro, onde comemorava-se o centenário da Independência do País. Com um discurso do então Presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, e acordes da ópera O guarani, de Carlos Gomes, que era transmitindo diretamente do teatro municipal do Rio de Janeiro, assim se tinha a primeira transmissão oficial e experimental no maior veículo de comunicação de massa de todos os tempos do Brasil, o rádio (CALABRE, 2002).
Esse evento recebeu inúmeras visitas de empresários de várias partes do mundo, entre eles americanos que trouxeram a tecnologia da radiodifusão, o assunto principal nos Estados Unidos naquela época. E assim através de um transmissor de 500 watts, emprestado pelas empresas norte-americanas Westinghouse e Western Electric, que direto de suas estações de transmissão montadas no Corcovado e na praia vermelha, gerava um sinal para 80 receptores importados e distribuídos para alguns membros da sociedade carioca, tendo sido captado em Niterói, Petrópolis, na serra fluminense e em São Paulo. Durante todo o mês de setembro, em poucas horas por dia, aconteciam as transmissões nas comemorações alusivas ao centenário, com a transmissão de óperas, boletins, poesias e conferências.
Entre os presentes no evento, estavam vários intelectuais e cientistas como, por exemplo, Edgar Roquete Pinto, um médico que estudava radioeletricidade para fins fisiológicos e fazia parte da Academia Brasileira de Ciências. Porém, infelizmente as transmissões não tiveram continuidade por falta de interesse do governo em comprar equipamentos e em não se ter um projeto mais consistente, de modo que pouco tempo depois foram desmontadas as estações.
O médico, todavia, ficou entusiasmado com o que presenciou, pois viu o rádio como uma forma revolucionária para a educação, tanto que convenceu seu professor, que era o então presidente da Academia Brasileira de Ciências, Henrique Morize, e os sócios da referida instituição, a custearem a primeira emissora de rádio do país: a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que tinha sua sigla PRA2 (Rádio MEC). Só quase um ano depois, há 97 anos, em 20 de abril de 1923, foi anunciada a sua fundação (FERRARETTO, 2014).
No dia primeiro de maio de 1923, foi ao ar com um transmissor doado pela Casa Pekan, de Buenos Aires, e instalado na Escola Politécnica, na então Capital da República.
O rádio teve início dos seus trabalhos com o lema “Pela cultura dos que vivem em nossa terra, pelo progresso do Brasil”. Roquete Pinto foi o secretário e teve como Presidente, Henrique Morize, sempre deixou claro a sua vontade de que o Rádio fosse um canal de fomento à educação, ciência e cultura. Pois esse veículo abrangia os lugares mais longínquos, o que já era uma vantagem para o bom desempenho dessa fundamental função educativa. Além do mais, era o centro das atenções nas salas de famílias brasileiras, conseguindo reunir todos os membros. Em uma aliança com o rádio, foram lançadas revistas para aumentar a sua popularização, divulgando sua programação, conteúdos relacionados à radiodifusão educativa como horário de cursos e palestras transmitidos pelo aparelho, artigos de divulgação científica. As estações tinham sua base formada por acadêmicos e intelectuais.
O fato de ser resultado da iniciativa de cientistas determinou o caráter educativo da emissora, modelo que seria adotado pelas estações pioneiras instaladas na capital e em outros pontos do país no ciclo inicial de dez anos do rádio brasileiro, compreendido entre 1922 e 1932 (MOREIRA, 2003).
Vale destacar que Roquete Pinto foi um brasileiro comprometido com a educação que viu o rádio como o instrumento crucial para levar a informação e o conhecimento à população brasileira. Através do rádio, ele queria diminuir o analfabetismo no país que, na época, era cerca de 65%. Com esse veículo de comunicação era uma forma mais rápida desse quadro ser alterado. Pode-se dizer que a educação a distância teve início com Roquete Pinto.
O rádio é o jornal dos que não sabem ler, é o mestre de quem não pode ir à escola, é o divertimento gratuito do pobre; é o animador de novas esperanças; o consolador do enfermo; o guia dos sãos, desde que o realizem com espírito altruísta e elevado. (Edgard apud TAVARES, Reynaldo, 1997. p. 8.)
Logo após a criação da primeira rádio oficial do Brasil, muitas outras emissoras foram surgindo no país. No fim da década de 20, já tinham sido fundadas 30 emissoras em todo país. O Rádio demonstrava força e grande audiência, mas ainda não tinha se profissionalizado. As transmissões eram autorizadas apenas para Clubes e Sociedades, onde eram comuns reuniões com amigos, sócios e ouvintes que “[...] exigiam uma agregação em forma de pagamento de taxa de sócio contribuinte” (FEDERICO, 1982, p. 47).
Os noticiários eram copiados dos jornais, o futebol não podia ser transmitido com medo dos estádios ficarem vazios. As transmissões atingiam apenas a elite, que tinha o poder econômico de comprar o pequeno aparelho importado que reproduzia programações com poucas horas de funcionamento (MEDITSCH, 2001).