Maria JosĂ© Barbosa de Sousa tem 66 anos e nunca teve o nome do pai no registro de nascimento. Ela mora no Assentamento Angicos, em TauĂ¡, e tem seis filhos, todos jĂ¡ adultos.
A mulher buscou o atendimento da Defensoria PĂºblica porque cuida de duas crianças e precisava entrar com uma aĂ§Ă£o de guarda delas. Foi quando o defensor pediu a documentaĂ§Ă£o pessoal dela que verificou a ausĂªncia do nome do pai nos documentos pessoais.
A mulher explicou que nunca teve o nome do pai no registro de nascimento. Luis AlaĂ³, hoje com 94 anos, teve dez filhos e sĂ³ dona Maria JosĂ© nĂ£o tinha o nome do pai no registro. Ela explicou que os pais sĂ³ se casaram no civil depois do nascimento de todos os filhos. Nessa Ă©poca, ela tinha 17 anos e havia acabado de se casar. Como ela jĂ¡ era casada, os pais sĂ³ conseguiram retificar a documentaĂ§Ă£o dos outros filhos. SĂ³ ela ficou sem a correĂ§Ă£o.
Passou quase 50 anos a ter esse direito. “NinguĂ©m tem nenhuma dĂºvida com relaĂ§Ă£o Ă paternidade. Eu sou filha dele e da minha mĂ£e, tenho meus irmĂ£os, uma vida e relacionamento normal com todos. Mas fica esse constrangimento pela ausĂªncia do nome do documento.
Para conseguir colocar o nome do pai no registro era muito caro. AĂ, deixei pra lĂ¡. AtĂ© que, por Deus, apareceu o dr. RĂ©gis. Foi a Ăºnica pessoa que viu meus documentos e teve interesse de consertar. Procurei a Defensoria por outro assunto e ela vai resolver meu sonho”, conta emocionada.
Tudo foi resolvido com um termo de reconhecimento de paternidade extrajudicial. O defensor pĂºblico RĂ©gis Luiz JordĂ£o de AlcĂ¢ntara, que atua na cidade, elaborou um dossiĂª com todas as informações, testemunhas, e enviou para o cartĂ³rio. O pai Ă© analfabeto e tudo foi assinado com a digital.
“Eu ia fazer uma ficha de qualquer coisa e ficava triste, porque todo mundo dizia que eu nĂ£o tinha pai. Eu tenho, mas nĂ£o estava no registro. Eu quero o nome dele nos meus documentos. Pra mim isso Ă© uma questĂ£o de honra”, complementa.
O defensor pĂºblico fala sobre a importĂ¢ncia de estar sempre atendo Ă s demandas da populaĂ§Ă£o: “O atendimento a populaĂ§Ă£o vulnerĂ¡vel nos torna depositĂ¡rios de informações e documentos em que, por vezes, hĂ¡ uma histĂ³ria de vida marcada por dificuldades sobre as quais o narrador desconhece os caminhos a serem percorridos para que possam ser superadas.
A escuta ativa, sensĂvel e empĂ¡tica nos proporciona essa experiĂªncia e nos apresenta oportunidades de corrigir desacertos de hĂ¡ muito presentes. Foi o caso da senhora Maria Barbosa que se emocionou ao ser questionada sobre a ausĂªncia do patronĂmico em seu nome, e, mais ainda, ao ter sido informada de que poderĂamos resolvĂª-la de uma forma simples, rĂ¡pida e efetiva.
A princĂpio, notei-a descrente, afinal de contas se tratava de descontentamento com o qual convivia desde nascida. Mas, apĂ³s os esclarecimentos feitos, a descrença se converteu em convicĂ§Ă£o, sobre o direito que lhe assistia, e o descontentamento em esperança”, destaca o defensor.
Com informações da Defensoria PĂºblica do Estado do CearĂ¡.